*Por Gilberto Schulz, Yoga em Casa
Quando analisamos os nomes tradicionais das posturas clássicas do yoga nos deparamos com muitas referências a deidades, sábios, heróis mitológicos, plantas e animais.
Como exemplo dessa constatação podemos citar a postura de equilíbrio natarajasana, que nos remete a Shiva na forma do rei da dança cósmica.
Matsyendrasana, uma torção em homenagem a Matsyendra um dos primeiros mestres da linhagem do hatha yoga.
O conjunto de “posturas de poder”, virabharasana I, II e III que fazem alusão ao guerreiro mitológico Virabhadra que vinga a morte de Sati.
Vrikshasana, a popular postura da árvore na qual nos equilibramos enraizados na Terra com apenas um dos pés.
E bhujangasana, a não menos conhecida postura da cobra ou da serpente que promove uma extensão completa da coluna vertebral.
Apenas algumas, entre uma infinidade de posturas com essa conexão semântica que vai além da forma que assumimos com o corpo nessas posições.
À primeira vista, sem conhecer a fundo essa relação, esses nomes tendem a ser percebidos superficialmente instigando curiosidade, aversão e também indiferença a depender do olhar de cada um e da forma como isso é apresentado.
Mais que um recurso lúdico, essa nomenclatura aponta para a camada cultural do yoga que além de ser a roupagem de toda uma sabedoria milenar também funciona como uma linguagem bastante eficiente que vai além da nomenclatura das posturas.
Mesmo que, em essência, o yoga seja um modo de vida universal, toda a visão que embasa as práticas, valores e objetivos é muito bem representada e comunicada através de alguns símbolos específicos.
Os símbolos nos conectam às idéias de forma direta e abrangente quando o conhecimento do seu significado se faz presente na nossa mente, podendo nos fazer acessar, inclusive, as camadas mais profundas da psique humana.
Quando temos a oportunidade e nos permitimos estudar também essa face cultural da tradição do yoga enriquecemos e aprofundamos a prática pois todo esse simbolismo é naturalmente carregado, evocando atitudes, sentimentos e intuições.
Deixamos de nos preocupar apenas com a forma ou com a flexibilidade muscular, como diz Kausthub Desikachar: “Ao meditar sobre esses elementos e personagens, também incorporamos alguns de seus atributos”.
Indo além, agregar essa esfera do yoga faz com que o momento em cima do tapetinho transcenda o sentido de uma prática e se torne uma profunda vivência compartilhada além do tempo e do espaço.
Pois, de modo geral, todos essas referências simbólicas apontam e nos conduzem para um dos sentidos literais da palavra yoga, união, ao revelar que dentro dessa dança cósmica regida por Shiva, somos um.
Nossa existência individual é completamente interligada com a natureza, desde os elementos básicos como a terra, a água e o ar, passando por toda flora e fauna. Da mesma forma, também estamos atrelados aos nossos ancestrais e aos nossos contemporâneos.
Abarcar em sua práxis esse olhar é uma particularidade bela e única do yoga que não pode ser negligenciada, pelo contrário, merece ser amplamente difundida.
Enquanto professores podemos não conhecer todos os nomes em sânscrito nem todas as histórias, é compreensível pois se trata de um universo vasto.
Mas não deixemos de mencionar pelo menos o sentido de alguns nomes das posturas clássicas pois eles em si apontam para essa esplêndida paisagem que é digna de apreciação.
Fonte: Yoga em Casa
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