Unir, em um único cardápio, a diversidade de frutas, verduras, proteínas e carboidratos, de uma forma atrativa e – ao mesmo tempo – saudável às crianças, é o grande desafio de pais e educadores. Pensando nisso, a estudante de gastronomia e consultora em alimentação infantil, Thaís Ventura, resolveu criar um blog onde compartilha receitas de fácil preparo, na medida para os pequenos, que têm sido um sucesso na web. Há quatro anos no ar, o público do “As delícias do Dudu” pôde acompanhar o crescimento do filho de Thaís por meio de postagens altamente instrutivas – que vão da papinha nos primeiros meses de vida ao conteúdo da lancheira escolar.
O hobby familiar, que existe desde a última geração de que ela se lembra, acabou se tornando um caminho profissional. Além das postagens, Thaís também possui um canal no youtube e, volta e meia, participa de hangouts em que trata de alimentação saudável para crianças com outros especialistas, além de tirar dúvidas. Para ela, boa parte da qualidade do que consumimos está relacionada à educação na infância: “É preciso criar hábitos saudáveis desde cedo (6 meses). Começar assim, é bem mais fácil do que mudar a alimentação depois de estabelecida. Crescendo com essa consciência, a própria criança vai saber fazer escolhas mais saudáveis no futuro.”
A cantina e o refeitório da escola, por exemplo, podem ser ambientes adversos. Frituras, salgadinhos, doces, guloseimas, refrigerantes, sucos artificiais, corantes, açúcar em excesso – geralmente – estão disponíveis para o consumo das crianças. Pensando nisso, as nutricionistas Manoela Menegazzo e Daniela Muniz criaram a Doce Vida – assessoria em nutrição, que tem como uma de suas frentes a formação de merendeiras/cozinheiras em escolas do estado de Santa Catarina: “São as merendeiras que servem e acompanham as refeições. É importante – neste momento – elas sensibilizarem os alunos para comerem e experimentarem opções saudáveis”, comenta Manoela.
Como as instituições são públicas, quem as procura é a nutricionista do município, que aponta quais as dificuldades enfrentadas e, a partir disso, Manoela e equipe elaboram um cronograma de atividades. Geralmente, as turmas de merendeiras não passam de 30 para que possam absorver bem o conteúdo teórico e, ainda, colocar a mão na massa (por meio de atividades lúdicas) sob a orientação das nutricionistas. Uma das atividades, por exemplo, é: executarem receitas com algum alimento pouco aceito pelas crianças, mas extremamente saudável. Alimentos pouco aceitos pelas crianças são, quase sempre, aqueles com os quais elas não têm contato em casa, já que a praticidade dos industrializados costuma imperar nas mesas familiares.
Em maio de 2015, a chef de cozinha natural e apresentadora do programa Bela Cozinha (canal GNT), Bela Gil, foi alvo de ataques na internet depois de publicar na conta pessoal no Instagram a foto da lancheira de sua filha Flor. Granola, batata doce, banana da terra e água compunham o cardápio que a menina levaria ao colégio. Na velocidade que só a internet é capaz de proporcionar, em poucas horas a imagem de Bela já estampava a home de portais, blogs e timelines. Muitas pessoas se posicionaram a favor, outras contra, a escolha da chef por alimentos naturais na merenda escolar. Em resposta à polêmica, Bela Gil publicou no blog pessoal:
“Fico contente em ver muitas pessoas apoiando uma alimentação saudável e consciente. Ao mesmo tempo entendo algumas pessoas criticarem a marmita da minha filha, pois acredito que elas não enxergam a alimentação como uma ferramenta política, econômica, social, ambiental e de saúde. Eu acredito que podemos mudar o mundo através da alimentação e são esses valores que quero passar para a minha filha no dia a dia. “
A polêmica trouxe à tona um debate que há muito tempo vinha sendo tratado como periférico, já que a indústria do consumo – que patrocina os meios de comunicação – o teme. A visibilidade da chef fez com que a pauta “alimentação consciente” (preocupada não só com o alimento em si, mas também com o modo de produção e o preparo) ganhasse corpo nas redes sociais e, ainda que muita gente se oponha ao discurso de Bela, outras tantas pararam para pensar sobre o assunto e rever conceitos.
Não é fácil mudar algo que está incrustado na cultura. Lara Folster, também ativista da alimentação natural, passou a militar nessa causa depois de ter dado à luz ao Gael. Foi quando percebeu que “o filho disputava os olhares entre o seu lanchinho natureba e o lanchinho da amiga, que era salgadinho e refrigerante às 09 horas da manhã” – conta.
Ela resolveu criar, então, a Lanche&Co – uma empresa que fornece alimentos para escolas. “Tudo é feito diariamente e sempre com um ingrediente funcional. Pães, bolos, sucos e cookies, tudo é feito na escola. Fica aquele cheirinho de comida de casa na escola toda!”. Lara se lembra com assombro da cantina do colégio onde estudou e trabalha para tornar mais saudável a alimentação de seus filhos e outras crianças.
Embaixadora do Food Revolution em São Paulo (projeto do chef inglês Jamie Oliver, que propõe elaborar e apoiar iniciativas de alimentação saudável para crianças), está sempre à cata de propostas que estimulam a cultura da comida sustentável, acessível a todos. Duas descobertas que gosta de citar, são: Dona Xepa, que reaproveita alimentos coletados na feira, e não possuem valor comercial, para criar pratos saborosos. A iniciativa tem por objetivo sensibilizar o público em geral do desperdício de resíduos alimentares, apresentando meios simples e dinâmicos para agir em relação a isso. E o outro exemplo é a Feira de Gastronomia Orgânica, que acontece uma vez ao ano, e apresenta inúmeras alternativas para que todo o processo da cadeia alimentar (do plantio ao preparo do prato) seja sustentável. Oficinas, a participação de chefs renomados, entre outras atrações compõem a programação.
Perguntamos: Lara, qual a melhor forma de militar em prol da alimentação saudável com uma concorrência (mídia) tão grande incentivando o oposto? Ela responde: “O exemplo é o melhor ensinamento. Seja aquilo que você acredita! Não brigue com a comida ruim, faça a comida boa, melhor. Divulgue iniciativas, ensine uma pessoa a cozinhar. A mídia massacra, mas vejo um movimento fortíssimo do nosso lado. Comida de verdade para todos!”.
Que assim seja!
Fontes:
A delícias do Dudu: http://www.asdeliciasdodudu.com.br/
Doce Vida: http://www.docevida.ntr.br/
Bela Gil: http://www.belagil.com/
Lanche&Co: http://lancheco.com.br/quem-somos/
Dona Xepa: https://www.facebook.com/discoxepa/?ref=profile
Feira de Gatronomia Orgânica: https://www.facebook.com/festgastronomiaorganica/?ref=profile