A participação em atividades musicais aumenta a habilidade da criança para aprender matemática básica e leitura, relatam diferentes pesquisas recentes realizadas nos EUA e na Alemanha. Os estudantes que participaram de programas de música obtêm notas significativamente mais altas nos testes padronizados e, ainda, desenvolvem habilidades fundamentais para uma vida bem sucedida, como – por exemplo – autodisciplina, capacidade para trabalhar em grupo e facilidade para a resolução de problemas.
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Munster, Alemanha, observou que o fato de ter aulas de música na infância, aumenta o tamanho do cérebro. A área cerebral que se utiliza para analisar o tom de uma nota musical, por exemplo, é 25% maior nos músicos em comparação com as de pessoas que nunca tocaram um instrumento. As descobertas indicam que a área cerebral aumenta com a prática e a experiência, pois, quanto mais jovens eram os músicos quando iniciaram o aprendizado musical, maior é essa área em seus cérebros.
Um outro grupo de pesquisadores que estuda a ligação entre música e a inteligência informa que, em crianças, o aprendizado musical supera a instrução de informática no que se refere ao estímulo das habilidades de raciocínio matemático e ciências.
Essas descobertas foram publicadas na edição de fevereiro de 1997 da revista Neurological Research e são o resultado de dois anos de experiências em crianças em idade pré-escolar, dirigidas pela psicóloga Dra. Frances Rauscher, da Universidade de Wiscosin em Oshkosh, e pelo físico Dr. Gordon Shaw, da Universidade da Califórnia, em Irvine, EUA. Seus estudos revolucionários indicam a forma pela qual a música pode aumentar a habilidade de raciocínio espacial. Esses pesquisadores dedicaram um tempo em comparar os efeitos do treinamento musical e não-musical no desenvolvimento intelectual.
A experiência incluiu três grupos de crianças em idade pré-escolar. Um grupo recebeu aulas particulares de piano e aulas de canto; um segundo grupo, recebeu lições de informática; o terceiro grupo, não recebeu treinamento algum. Aquelas crianças que passaram pelo treino de piano obtiveram resultados 34% mais altos nos testes que mediam as habilidades “têmporo-espaciais”, em comparação com os outros grupos. “Têmporo-espacial” é a capacidade de raciocínio proporcional, necessário aos estudos como: proporções, frações e pensamento no espaço e no tempo. Isto comprova que a música, por si mesma, aumenta as funções cerebrais superiores exigidas para o aprendizado de matemática, xadrez e engenharia.
As implicações destes e de outros estudos que vêm sendo realizados podem mudar a forma como os educadores consideram o currículo escolar atualmente, incluindo o estudo da música no cotidiano, que alimenta o intelecto e produz melhorias duradouras.
Cientistas argumentam que, se mais administradores escolares estivessem sintonizados com as pesquisas sobre o cérebro, não apenas os currículos mudariam, mas matérias como língua estrangeira e geometria seriam ministradas às crianças mais novas; música e ginástica seriam requisitos diários; palestras, trabalhos escritos e memorização dirigida seriam substituídas por materiais participativos, arte dramática e trabalho em projetos.
Algumas escolas, como as da linha da Pedagogia Waldorf já reconhecem isso desde sua idealização, ocorrida pelo filósofo alemão Rudolf Steiner, há cerca de um século. Os alunos iniciam diariamente suas aulas com a prática em conjunto de flauta doce, que contribui também para harmonização do grupo da sala de aula. Utilizam também as formas geométricas para crianças antes mesmo do foco na alfabetização, como forma de preparar a coordenação motora fina para o traçado das letras.
A arte dramática inicia-se cedo, com as mais variadas linguagens. A partir do segundo ano, por exemplo, as crianças recebem um verso no início do ano, que terão que declamar para toda a classe uma vez por semana. As artes dramáticas vão evoluindo onde, no oitavo ano, os alunos se preparam por todo o ano para uma apresentação para toda a comunidade escolar de uma peça teatral muito bem estruturada, digna de ser apresentada em qualquer casa de espetáculos culturais. A música e a arte permeiam todo o ensino do currículo pedagógico Waldorf e são a própria base para o desenvolvimento cognitivo e de caráter do aluno.
“A música é um instrumento educacional mais potente que qualquer outro”, disse certa vez Platão. Agora os cientistas sabem o porquê. A música, acreditam eles, treina o cérebro para formas superiores de raciocínio.
Informações baseadas no livreto A importância da música para as crianças, editado pela ABEMÚSICA – Associação Brasileira da Música. Site: www.abemusica.com.br