Entrevista com André Amaral

Cultura da Paz – O que te motivou a querer cuidar do meio ambiente?

 

Desde pequeno, sonhava em ser um “defensor do meio ambiente” – me parecia algo heróico. Após crescer, fui me envolvendo mais e mais com o meio ambiente. Ativismo, educação, campanhas ambientais, tecnologias verdes. O fato de ter irmãos mais velhos, que sempre me levaram para estar em contato com a Natureza, despertou a vocação que já havia lá dentro. Nesses contatos, aprendia o grande valor do meio ambiente e via que nem todos cuidavam da mesma forma que meus irmãos me ensinavam a cuidar e que, pelo contrário, muito estava sendo perdido, o que me fazia querer agir, reverter esse quadro.

 

2 – Qual tem sido sua atuação na área ambiental desde esse despertar?

 

Procurei uma faculdade que me levasse a um campo profissional onde pudesse atuar na conservação ambiental. A faculdade de Biologia me abriu alguns horizontes, apesar de uma visão ambiental limitada. Então, decidi seguir os estudos com o mestrado em Ciência Ambiental. Nesse ponto, consegui enxergar melhor e estruturar diversos saberes vindos de uma visão ambiental interdisciplinar. Pesquisei percepções ambientais e desenvolvi uma metodologia de diagnóstico participativo de problemas socioambientais locais para a efetiva ação da Educação ambiental em comunidades e escolas.

 

Em paralelo, fui voluntário e ativista do Greenpeace durante alguns anos onde pude atuar mais diretamente na denúncia de crimes ambientais e na tentativa de impedi-los. Trabalhei em pesquisa nessa organização e coordenando campanhas, planejando estrategicamente conjuntos de ações para que pudéssemos levar o país e o mundo para algo menos impactante em termos de interação com o meio ambiente. Essas ações envolviam pesquisa, comunicação, ações diretas não-violentas, reuniões, mobilizações de massa etc. Após trabalhar no Greenpeace Brasil como “campaigner”, trabalhei um curto período de tempo para o Greenpeace Internacional, na equipe de monitoramento de Fukushima.

 

A saída do Greenpeace foi motivada pela vontade de atuar mais no “sim”, viabilizando propostas ambientais economicamente viáveis, tornando-as reais e colocando-as à disposição da sociedade. Mostrando que nem só de “não” vive o ambientalismo e que devemos iniciar a construção de uma economia verde em vez de esperar que os outros o façam. Foi aí que nasceu a EcoGreens.

 

3 – O que é a Ecogreens?

 

A EcoGreens é uma empresa que tem como objetivo principal trabalhar um novo conceito para um novo mundo. Mostrar que desenvolvimento e meio ambiente não são coisas antagônicas, mas que devem andar em conjunto. O desenvolvimento tecnológico deve prezar pela conservação ambiental e é isso que temos visto por aí, apesar de as pessoas ainda não perceberem o que está acontecendo e seu papel nisso tudo. E é nesse ponto que estamos focando: mostrar às pessoas que é possível. É possível se divertir e cuidar do ambiente. É possível se desenvolver e cuidar do ambiente. É possível fazer tudo isso gastando menos.

 

Desde a década de 1970, onde começaram a ganhar força internacional as discussões ambientais, o Brasil se coloca contra, alegando ser a estratégia conservacionista, uma manobra dos países desenvolvidos para frear nosso crescimento. E hoje, em pleno século 21, a maioria ainda acredita nisso. Há pessoas que acham que energia nuclear é tecnologia de ponta. Mas não é. Energia solar concentrada é tecnologia de ponta. Mais barata, mais limpa, sem riscos. E esse apenas é um exemplo.

 

Seguindo nessa direção, trabalhamos focando na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, além de transferir tecnologias de outros países para o Brasil. Essas tecnologias que trabalhamos são tecnologias de ponta, que focam na energia regenerativa, que nada mais é que aproveitar energia que está sendo desperdiçada em outras formas como, por exemplo, no movimento e transformá-la em energia elétrica. Temos Piso, Pista de dança, Bicicletas, e tecnologia para criar desde aparelhos de academia a brinquedos de parquinho que gerem energia. A pesquisa é cara, por isso, nesse momento inicial focamos no mercado de grandes eventos, pois através dele podemos levar o novo conceito para toda a população.

 

É difícil resumir a EcoGreens. É um sonho. Dentro da correria diária, dedicamos parte de nosso tempo para criar um modelo de gestão interna sustentável. Porque sustentabilidade não pode ser só da porta para fora. O que adianta a felicidade do cliente se valer a alma de um funcionário? Buscamos todo dia nossa felicidade em nossas atividades e um modelo mais justo e sustentável internamente. Além disso, estamos focando em produção a baixo custo para, em um futuro próximo, podermos trabalhar com desenvolvimento comunitário em locais de baixa renda através da implantação de nossas tecnologias: Sabemos que independência energética é algo que ainda não existe e queremos oferecer isso à sociedade.

 

4- Qual a dica que daria para um educador que queira iniciar esse tema com seus alunos?

 

Leitura! Hoje existe muita informação boa na internet. No nosso facebook, mantemos uma campanha de EcoSoluções. Explico: diariamente, divulgamos informações práticas para o dia a dia de quem quer minimizar seu impacto sem ter que gastar mais. É o compromisso da EcoGreens com a divulgação de informação livre para a sociedade.

 

5 – Como vê o interesse dos jovens hoje no tema meio ambiente?

 

Vejo muita gente fazendo cursos técnicos com a esperança de emprego, por ver a área crescer. Mas pensar a sustentabilidade no dia-a-dia, com práticas, serviços e ideias menos impactantes, ainda vejo pouco. Porém, injusto seria criticar isso. Num país onde ainda temos tanta fome, baixo grau de instrução e pouco acesso à saúde, não há como falar de meio ambiente. Como posso querer que um jovem sem emprego, educação, que nem sabe o que vai comer hoje, queira que a Amazônia seja menos desmatada? Um problema tão longe para aqueles que nada têm, e que são a maioria da população… E fica mais difícil ainda se pensarmos que a grande parte da outra parcela da população, com instrução, acesso a bens básicos etc, está ganhando com a devastação…

 

6 – Como vê a atuação do Brasil nessa área? Quais os principais desafios?

 

Como disse anteriormente, o Brasil tem desafios muito maiores que o ambiental: a fome, a saúde, uma educação medíocre. Mas não podemos deixar que isso faça com que o meio ambiente seja esquecido. Precisamos ir às ruas pressionar os órgãos públicos e o mais importante: parar de esperar e fazer nossa parte.

 

A atuação do governo brasileiro é péssima. Estamos planejando “sujar” nossa matriz energética. Tomar a terra dos índios. Anistiar desmatadores. Construir usinas nucleares e grandes hidrelétricas. Dando concessão em unidades de conservação: talvez até criando-as para as concessões. Acabaremos com o código florestal… São maus tempos para o meio-ambiente no Brasil e eu explico: temos uma enorme bancada ruralista no Congresso, que está destruindo as leis ambientais e fazendo o que bem entende com nossas florestas.

 

Derrubar essa bancada e votar bem é o nosso grande desafio. Espero que depois dessas manifestações, o povo fique mais esperto e debata mais as votações do legislativo, ao invés das votações do paredão do Big Brother. E ocupem as ruas com técnicas de ação direta não-violentas.

 

7 – Qual é o seu maior sonho?

 

Maior é difícil. Talvez seja ver a humanidade respirando justiça, amor e paz, além de um ar purinho. Todos sendo Um, se tratando como irmãos. Expandindo a família de nascimento para todos os cidadãos e seres vivos que habitam esse planeta. Tendo o planeta como casa e não mais nações diferentes. Seria lindo.

 

Um outro grande sonho é a construção de um novo modelo de viver e coexistir. Sempre sonhei com uma comunidade, uma ecovila e esse é meu próximo passo, na luta pelo ambiente. O pontapé inicial foi dado, agora é só trabalhar.

 

 

André Amaral é biólogo, ativista ambiental e diretor da Ecogreens.