*Trecho extraído do livro “A Segunda Vinda de Cristo – Volume 3”
E disse: “Um certo homem tinha dois filhos; e o mais moço deles disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence’ . E ele repartiu por eles a fazenda . E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente .
“E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades . E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos . E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada .
“E, tornando em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: “Pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros” .’ E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou .
“E o filho lhe disse: ‘Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho’ . Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado .’ E começaram a alegrar-se .
“E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças . E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo . E ele lhe disse: ‘Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo .’
“Mas ele se indignou, e não queria entrar . E, saindo o pai, instava com ele . Mas, respondendo ele, disse ao pai: ‘Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado .’ E ele lhe disse:
‘Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se’” (Lucas 15:11-32) .
Além da moral óbvia, consagrada pelo tempo, acerca do arrependimento e do perdão, esta parábola tem também uma implicação espiritual mais profunda:
“Dois devotos nasceram na Terra com uma grande sabedoria que herdaram de suas ações espirituais de vidas passadas e da graça do Pai Celestial. O devoto mais jovem, orgulhoso de possuir o tesouro da sabedoria que lhe foi concedido, tornou-se demasiadamente confiante e negligente.
Com as riquezas da sabedoria guardadas secretamente em seu íntimo, ele viajou para a terra longínqua da ilusão e das tentações, e lá desperdiçou suas qualidades virtuosas ao identificar-se com os prazeres sensoriais do corpo. Depois de permanecer por longo tempo na ilusão sob a influência de más companhias, foi acometido pela terrível penúria do sofrimento interior e sentiu o anseio de receber novamente o alimento da sabedoria, mas não pôde encontrá-lo em sua vida devastada pela aridez.
“Ele buscou refúgio junto a um bom homem que se dedicava a disciplinar almas rebeldes e embrutecidas como animais (os “porcos”), treinando-as com algumas instruções morais elementares. O jovem devoto, que havia perdido seu tesouro da sabedoria em decorrência de uma vida dissoluta, estava tão profundamente arrependido de seu mau comportamento que desejava receber inclusive as “bolotas” de uma disciplina rudimentar; mas parecia que ele nada encontrava para satisfazer sua dilacerante fome de pão divino.
“Quando o jovem, em razão de contínuo arrependimento, abandonou sua identificação com os sentidos e se concentrou em seu Eu interno (‘tornando em si’), sua introspecção o levou a concluir: ‘Meu Pai Celestial possui uma provisão inexaurível do pão da sabedoria e da bem-aventurança divina, e aqui estou eu padecendo fome de paz, sabedoria e bem-aventurança. Agora me levantarei, erguerei minha consciência acima do plano das sensações e regressarei a meu Pai no reino da Consciência Cósmica, dirigindo-Lhe as vibrações de minhas orações intuitivas interiores: “Meu Pai, Pai Celestial, infringi as leis da felicidade divina deixando-me levar pela promiscuidade sensorial. Obscureci com a ignorância Tua verdadeira imagem presente em minha alma. Por isso, em meu atual estado de consciência, não mereço dizer que sou Teu filho. Aceita-me de volta e dá-me qualquer posição ou tarefa insignificante que eu possa cumprir nesta Terra a fim de reparar minhas más ações”.’
“O jovem devoto então se levantou, ou seja, elevou sua consciência em direção à Consciência Cósmica (o Pai). Quando ele ainda se encontrava muito distante da meta da Consciência Cósmica devido a seu comportamento libertino do passado, o Pai Celestial o viu avançando resolutamente para o Seu reino. Com amor incondicional por esse devoto pródigo, derramou sobre ele a divina consciência de Sua abençoada Presença, envolvendo-o no abraço onipresente da bem-aventurança.
“O Pai Celestial recebeu então de volta o devoto pródigo em Seu glorioso reino astral, onde incontáveis devotos adiantados e libertos reinavam com Sua Majestade Suprema. O Pai Celestial ordenou a Seus anjos que trouxessem para o jovem devoto os melhores trajes de luzes astrais e percepções interiores para ornamentar a alma de Seu filho. Eles o adornaram com o anel de diamantes da verdade e lhe calçaram os pés com as sandálias do poder eterno. Houve celebração no mundo astral pelo regresso do devoto pródigo, e a ele foi oferecido o bezerro cevado da sabedoria e da divina bem-aventurança. O Pai Celestial disse a Seus anjos: ‘Regozijemo-nos todos em comunhão com este devoto, porque ele é meu filho pródigo que estava espiritualmente morto e renasceu para sempre em minha Consciência Cósmica; estava perdido na ilusão e foi agora encontrado, pois sua consciência retraçou seus passos ao Meu lar de Consciência Cósmica.’ E todos eles comungaram na alegria da bem-aventurança.
“O irmão mais velho do jovem devoto também vagava no campo da visão cósmica. Ao aprofundar-se, chegando próximo do âmbito do regozijo astral, percebeu a música das esferas e a dança dos anjos. Em sua visão, chamou um dos anjos e perguntou-lhe por que havia essa festividade especial no céu. O anjo respondeu: ‘Teu irmão pródigo, que vagava na ilusão, regressou ao reino divino, e teu Pai Celestial lhe concedeu as bênçãos eternas da sabedoria e da bem-aventurança sempre-nova. O Pai Celestial está feliz porque teu irmão mais jovem, que havia incidido no erro, recuperou sua consciência divina, libertando-se do longo aprisionamento nos ciclos cármicos da reencarnação.’
“Ao ouvir isto, o devoto mais velho sentiu-se desconcertado e não se aproximou da presença do Pai. Por essa razão, a Consciência Cósmica se acercou dele através de sua intuição, sugerindo-lhe alguns pensamentos espirituais e percepções interiores. Porém o devoto mais velho em sua visão emitiu as vibrações de sua perplexidade: ‘Pai Celestial, eis que durante tantos anos eu Te honrei e reverenciei fielmente em Consciência Cósmica! Jamais infringi Teus mandamentos nem transgredi Tuas leis divinas impulsionado sequer por um desejo de satisfazer os apegos sensoriais. Ainda assim, nunca me deste semelhante demonstração de Tuas bênçãos. Mas tão logo este filho pródigo chegou a Teu reino – ele, que desperdiçou Tuas dádivas de sabedoria com sua devassidão –, Tu lhe ofereceste o bezerro cevado da sabedoria para que dele desfrutasse imerecidamente.’
“O Pai Celestial enviou vibrações de sabedoria intuitiva ao coração do devoto adiantado que ainda carecia de compreensão: ‘Meu filho e devoto, tu estás sempre em Minha Consciência Cósmica; e o banquete da verdade, que inclui o bezerro cevado da sabedoria, sempre te pertenceu. Não deverias te sentir menor porque Nós consideramos justo e apropriado celebrar, com alegria cósmica, o teu próprio irmão extraviado que estava espiritualmente morto e está agora divinamente vivo, de volta ao Nosso reino, incrementando Nossa alegria e também a tua. Regozija-te!’”
Desse modo, até mesmo um homem perverso e muito corrompido pelos prazeres nocivos pode se tornar santo mediante uma sagrada e inquebrantável resolução. Ele reivindica a identidade de sua alma com Deus através da meditação firme e constante, abandonando seus hábitos impuros (as más companhias externas e as más inclinações internas) e mantendo sua atenção distante das cativantes sereias dos desejos materiais.
Por meio da meditação profunda, com determinação adamantina, tal pessoa gradualmente se recorda da verdadeira imagem divina sempre presente dentro de si. Com uma vigilância contínua, ela se desfaz do mal que se acha temporariamente enxertado em sua consciência externa, limitada ao corpo. A adquirida “segunda natureza” de maldade é esquecida assim que ela experimenta, no estado de êxtase, sua eterna natureza de bondade.
Não importa por quanto tempo um sonhador na terra dos sonhos se considere um homem mau, ao despertar ele se liberta dessa identidade. Ainda que uma alma tenha passado por muitas encarnações de maldade, seus hábitos ilusórios se desprendem e são esquecidos instantaneamente tão logo ela desperte em êxtase e experimente sua indelével bondade. Todos os seres se originaram de Deus, e mesmo no estado onírico de esquecimento próprio da mortalidade, cada um continua sendo um Deus potencial ainda adormecido. Ao abandonar os permanentes pensamentos obsessivos de ser um renegado irremediável, o homem deve despertar em Deus.