Carlos González é um dos maiores nomes da pediatria na atualidade. O espanhol é um fenômeno editorial do gênero (soma mais de 250 mil cópias vendidas) e realiza palestras por todo o mundo em defesa do aleitamento, da criação carregada no afeto e de outros valores importantes que asseguram o desenvolvimento saudável das crianças.

Confira abaixo a entrevista que ele concedeu ao Blog Cultura da Paz, em que trata destes e de outros temas.

Blog Cultura da Paz – Pode nos falar um pouco sobre a Criação com Apego e as teorias que embasam essa abordagem com as crianças?

Carlos González – Na realidade, essa não é uma expressão muito correta. O apego é uma necessidade básica do ser humano, todas as crianças têm apego e, portanto, todos os pais a criam “com apego”. Aqueles que afirmam que estão especificamente criando uma “criança com apego”, talvez não estejam fazendo exatamente isso mesmo.

O que eu recomendo (pois nunca falei de ”criança com apego”) é simplesmente tratar as crianças com carinho e respeito. Carinho inclui as manifestações físicas carinhosas; ou seja, acolhê-las nos braços, confortá-las quando elas choram, dar atenção a elas, dormir com elas. E respeito, consiste em não bater nelas, não humilhá-las, não ridicularizá-las, não gritar com elas, não ameaçá-las.

Blog Cultura da Paz Como estabelecer um equilíbrio entre a “Criação com Apego” e promover um desenvolvimento saudável da autonomia da criança?

Carlos González – Por acaso uma coisa é incompatível com a outra? Tratar as crianças com carinho e respeito aumenta a autonomia, pois, na verdade, estamos respeitando a sua autonomia.

Blog Cultura da Paz – No Brasil, temos muitas famílias seguidoras dessa corrente da Criação com Apego, mas que tem levado isso a um extremo de se sentirem “dominadas” depois pelos seus filhos a partir dos 2 anos de idade. Quais os conselhos que poderia dar a essas famílias para que não entrem em um ambiente de total permissividade para tentar fugir do ambiente do autoritarismo, que tanto condenam?

Carlos González – Insisto, não sei o que estão fazendo essas famílias no Brasil que dizem que “criam com apego” e que se sentem depois “dominadas por seus filhos”. Nas famílias que conheço, são os pais que dominam os filhos. São os pais que decidem onde a família vive, onde trabalham os pais, a escola em que vão os filhos, que roupa compram, que comida preparar e a que horas. São os pais que decidem se a criança precisa tomar banho ou cortar o cabelo. Nunca vi um filho obrigar seus pais a tomarem banho.


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Blog Cultura da Paz – No Brasil, é comum que os pais deem recompensas aos filhos por conta da realização de uma atividade, o que gera uma expectativa quanto ao desempenho da criança e, por parte dela, pouco desenvolvimento da capacidade de lidar com frustrações. O que poderia nos dizer a esse respeito?

Carlos González – Está amplamente demonstrado que as recompensas prometidas (se estudar, comprarei uma bicicleta, se recolher os brinquedos, te darei um sorvete) são inúteis e contraproducentes na educação dos filhos. E penso que além disso são imorais.

Não quero que meus filhos façam o que é correto porque esperam uma recompensa em troca, mas sim, porque é isso que precisam fazer.

Além do mais, desde o momento que oferecemos uma recompensa, estamos demonstrando a nosso filho que duvidamos dele. Jamais diremos: se jogar no computador, te darei uma recompensa ou, se comer todo o chocolate, te darei uma recompensa, porque pensamos que a criança já fará essas coisas sem necessidade de receber recompensas.

Oferecemos recompensa por aquelas coisas que pensamos que a criança não vai fazer. E porque pensaria eu que meu filho não vai estudar ou colocar a mesa? Eu acredito que sim, ele vai fazer isso sim.

Blog Cultura da Paz – Algumas famílias recebem a indicação de introduzir alimentos aos 4 meses do bebê se ele não estiver sendo amamentado com leite materno, mas sim artificial. É correto esse procedimento? Se não, que consequências pode trazer à criança?

Carlos González – Bem, é recomendável iniciar a alimentação complementar aos seis meses, mas, se necessário a partir dos quatro meses, não tem muito problema.

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Blog Cultura da Paz – Como saber se um bebê está realmente pronto para comer?

Carlos González – Muito simples: se ele pega a comida com a mão e a leva à boca.

Blog Cultura da Paz – Você tem alguma observação com relação à cultura alimentar do brasileiro e como ela pode influenciar na educação alimentar das crianças daqui?

Carlos González – Temo que eles têm o mesmo problema das crianças do mundo inteiro: o enorme consumo de refrescos, refrigerantes, bolinhos (ou docinhos) batatas fritas industriais e outras porcarias que não merecem o nome de alimentos, e que estão produzindo uma trágica epidemia de obesidade infantil.

Conheça os títulos do dr. Carlos González em português:

Bésame MuchoBésame Mucho:

“A orientação de um livro ou de um profissional raramente é explícita. A orelha do livro deveria dizer claramente: “Este livro parte do princípio de que as crianças precisam da nossa atenção”. Ou então: “Neste livro supomos que as crianças nos fazem de bobos na primeira oportunidade”. O mesmo deveriam fazer os pediatras e psicólogos na primeira consulta.
Assim, as pessoas seriam conscientes das diferentes orientações e poderiam comparar e escolher o livro ou o profissional que se adapte melhor às suas próprias crenças. Consultar um pediatra sem saber se ele é partidário do carinho ou da disciplina é tão absurdo quanto consultar um sacerdote sem saber se ele é católico ou budista, ou ler um livro de economia sem saber se o autor é capitalista ou comunista.”
Com uma narrativa leve e deliciosa, o pediatra espanhol Carlos González deixa claro os propósitos do seu livro: uma educação dos filhos com base no amor, no respeito e na liberdade.


Meu filho não come!Meu filho não come:

“Meu filho não come” é o terceiro livro traduzido no Brasil do médico catalão Carlos González pela editora Timo. O título remete a uma das frases que um pediatra mais escuta ao longo de sua vida. Embora no inverno ele enfrente a competição da tosse e dos resfriados, no verão, o não comer converte-se no rei indiscutível das consultas. Depois de explicar que seus filhos não comem, muitas mães prosseguem com algo mais ou menos assim: “eu sei que tem muitas mães chatas que ficam falando que seus filhos não comem. Mas é que o meu, doutor, realmente não come nada, você tinha que ver…”.
E elas erram duplamente. Erram, em primeiro lugar, ao pensar que seus filhos são os únicos que não comem. Mas elas erram principalmente ao pensar que outras mães são “chatas”. Nenhuma é. As famílias, especialmente as mães, sofrem com os conflitos relativos à alimentação. Sofrem muito. A ideia de não obrigar uma criança a comer, que constitui o eixo central deste livro, não deve ser considerada como um “método para abrir o apetite”, mas, sim, como uma manifestação do amor e respeito a seus filhos.


Manual prático de aleitamento maternoManual Prático do Aleitamento Materno:

Ganho de peso irregular, o que é uma boa ‘pega’, galactogogos, bicos artificiais, amamentação de gêmeos, amamentar após a cesárea, mamadas noturnas, choro do bebê, muitos são os aspectos que envolvem a amamentação, poucos são os profissionais bem preparados para dar respostas amorosas e embasadas às dúvidas das mulheres.
A maior parte das mães dá o peito para seus filhos, mas a maioria deixa de amamentar antes do que desejava, e poucas chegam ao período de dois anos que a Organização Mundial de Saúde, o UNICEF ou a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam.
Este livro pretende oferecer uma informação concisa, confiável e prática sobre o aleitamento materno, que permita: 1) aos profissionais de saúde ajudar com eficiência às mulheres que amamentam, e 2) às mães amamentar com prazer e segurança.
Revisão técnica: dra. Tereza Toma (pesquisadora do Instituto de Saúde de SP)