Durante os primeiros anos de vida, as crianças estão em contato com os seres invisíveis. Vão muito além da aparência do que veem, ouvem e sentem. Brincam com esses seres que, por sua natureza, não têm visibilidade. Sorriem, conversam com eles, escutam e respondem. Mas quando contam aos adultos suas experiências, eles não dão importância, tratam com desprezo estas vivências reais, percepção clarividente da manifestação interior espiritual da alma das crianças.

Ah, se os adultos consentissem ouvir esses relatos, fariam descobertas, teriam revelações surpreendentes. Eles abrem mão de uma preciosidade incalculável. Os pequeninos conseguem, muitas vezes, expressar o mais profundo da vida espiritual do modo mais simples possível, porque trazem no espírito a recordação de épocas distantes, quando os seres humanos apreciavam toda a natureza como um organismo vivo com o qual mantinham relação permanente e harmoniosa.

Como transmitir valores espirituais às crianças? Mantendo aceso o sentido maior, transcendente, que nutre a profundidade e não apaga vestígios de um passado impresso na alma. Por meio da observação da natureza, da contemplação e da contação de histórias que busque aproximá-los das fontes da alma humana, das quais irrompe a verdadeira poesia da vida, infinitamente sutil e mágica. Narrações que atuem em nós com uma simplicidade elementar.

A atuação de histórias, poesias, contos de fada e fábulas na alma das crianças, tem efeitos inconscientes. Assim como o processo pelo qual passa o alimento escapa inicialmente ao conhecimento humano – e tudo o que vivenciamos é apenas o encanto do saborear -, a sensação ou emoção agradável de uma criança ao deixar-se afetar por uma história, está muito distante do que ocorre no recôndito da alma. Porque o princípio que anima o ser humano tem uma necessidade gigantesca de deixar correr pelo seu organismo espiritual o conteúdo mágico das histórias, do mesmo modo que a constituição orgânica precisa fazer circular o que há de mais nutritivo nos alimentos.

Contação de Histórias

A criança ainda está intensamente unida à existência integral, vivencia de fato o mundo espiritual em suas diversas formas. Em sua própria parte essencial, ela precisa estar fecundamente ativa e dar existência às próprias forças formadoras para o seu crescimento.

E é por isso que os contos de fadas, histórias, fábulas e poesias, nutrem a sua alma e são alimentos maravilhosos para a luz que mora dentro dela, ligando-a ao que está gravado nas profundezas da existência. Se os seres humanos não deixarem que a criança que habita neles desapareça, se aliarão à força amorosa que inspira ações que propagam a paz e a luminância da existência.