Tudo  aconteceu  antes  da  primeira  Noite  de  Natal  que,  como  vocês  já sabem , foi há muito tempo. Aconteceu com Benjamim, um menino que morava  com  seu  pai  numa  hospedaria  situada  nas  redondezas  da  pequena cidade  de  Belém,   ao  lado  da  estrada  que  ia  de  Belém a Jerusalém.

O  pai  de  Benjamim  era  o  proprietário  e, como  as  pessoas  estavam constantemente  passando  por  lá,  ele  conseguia  ganhar  o  suficiente  para sustentar  a  si  e  ao  filho.  Benjamim,  é  claro,  estava  acostumado  a  ajudar seu  pai.  Ele  gostava  da  vida  na  hospedaria,  onde  podia  encontrar  muitas pessoas  de  diferentes  partes  do  país  e  ouvir  as  conversas  e  histórias  que contavam. Fora  isso,  nada  muito  excitante  acontecia  lá.  Ninguém  muito importante jamais  passara a noite lá , como acontecia nas outras hospedarias perto  da  estrada,  maiores  e  melhores.  Algumas  vezes,  Benjamim  conseguia saber  de  alguns  fatos  dessas  grandes  personalidades  que  por  lá  passavam, mas  nunca  paravam,  pois  a  hospedaria  do  seu  pai  era  muito  simples; mercadores de camelos, mensageiros, simples viajantes, eram as pessoas que lá dormiam.

Então, quando o pai de Benjamim disse um dia:  “Nós  precisamos nos preparar para o dia do pagamento dos impostos; haverá muitas pessoas vindo e  passando por  aqui”, Benjamim pensou que talvez as coisas pudessem melhorar. Seu pai explicou que o rei ordenara o pagamento desses impostos, pois  precisaria de muito dinheiro para realizar todas as suas obras; então, havia mandado mensageiros por todos os vilarejos e cidades para avisarem as pessoas da obrigação de irem a Jerusalém numa determinada data, efetuar o pagamento.

–  Penso que nós deveríamos limpar o nosso velho estábulo – falou o pai de Benjamim. Quem sabe precisaremos dele quando a multidão começar a passar por aqui!

estabulo

Esse estábulo era uma velha construção atrás da hospedaria e em frente a uma caverna,  na encosta de uma colina rochosa. Benjamim nem lembrava quando fora usado pela última vez e nem imaginava porque o seu pai pensara que talvez fossem precisar dele agora. Mas se seu pai queria que fosse limpo, assim ele faria.

Então, no dia seguinte, Benjamim se pôs a trabalhar. E que trabalho ele teve! O estábulo estava num estado lamentável e assim o menino teve que se empenhar  na  tarefa. Depois de trabalhar toda a manhã, desde bem cedo, ele conseguiu tirar a maior parte da sujeira, deixando o chão razoavelmente limpo.

Enquanto descansava encostado na sua  vassoura, olhando para o serviço que havia realizado e pensando que tinha feito um bom trabalho, Benjamim ficou surpreso ao ouvir uma voz atrás dele, dizendo: “Eu penso que ainda não está suficientemente bom; muito mais deverá ser feito antes de estar realmente pronto.” Ao se virar, o menino deparou-se com uma pessoa desconhecida, em  pé, ao lado da porta, olhando em volta com olhos bem críticos. “Não, realmente não está pronto”, o estranho concluiu.

– Não está pronto para o quê? – perguntou Benjamim surpreso, pois somente seu pai podia reclamar e comentar sobre seu trabalho!

Mas antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, para sua surpresa, o estranho não estava mais lá. Benjamim não o tinha visto afastar-se; ele simplesmente sumira. O menino não podia acreditar no que se passara e, pensando que havia sonhado, ficou estarrecido, em pé, no local onde o estranho  havia  estado. “Pessoas não desaparecem assim, dessa maneira…” – ele refletiu, e correu para ver se o desconhecido ainda estava lá fora. Ele olhou por toda parte, para cima e para baixo da estrada, mas, apesar de dali se ter um bom campo de visão, não havia sinal de que alguém houvesse passado por lá.

Bem, isso tudo deu a Benjamim muito o que pensar. Ele não sabia o que fazer. Então, quando voltou ao estábulo, pôs-se a olhar em volta, como o estranho havia feito. Ele estava certo: o estábulo ainda estava muito sujo. O chão parecia-lhe razoável, mas as paredes estavam ainda cobertas de pó e, o telhado, cheio de teias penduradas até o chão. Ele ia perguntar a seu pai se, quem sabe, ele teria mandado o estranho, ou se ele o havia visto. Mas o pai havia saído para visitar o vizinho e Benjamim decidiu não falar nada. Ele iria trabalhar mais no estábulo no dia seguinte e esperaria para ver se o estranho retornaria.

Então, no dia seguinte, ele recomeçou sua  tarefa dando o máximo de atenção às paredes. Isso significava, logicamente, que teria que refazer todo o trabalho do dia anterior, pois a sujeira iria cair das paredes e cobrir o chão. Mas ele não se  importou e continuou até terminar. “Agora”,  pensou  consigo mesmo, “se o estranho vier novamente, eu estarei pronto para surpreendê-lo.”

Mas ele se enganava, pois enquanto pensava isso, lá surgiu o estranho, dentro do estábulo, olhando por todos os cantos, exatamente como havia feito antes. “Não”, disse ele lentamente, “não está pronto. Está  melhor, mas ainda não está preparado para receber o Rei.”

– O Rei! exclamou Benjamim, mas outra vez, antes de conseguir dizer mais, o forasteiro tinha sumido.  Apesar de Benjamim sair correndo por todos os caminhos, olhando para cima e para baixo da estrada, ele não conseguiu vê-lo.

Agora, a sua curiosidade estava de fato aguçada. Para que um rei iria querer aquele  estábulo? Que tipo de rei seria? Reis tinham a ver com palácios, não com estábulos. Eles possuíam muitos servos. Mas o desconhecido havia de fato falado “Rei”. Agora tudo estava mais estranho do que antes.

Benjamim lembrou-se de que não havia dito nada a seu pai; e, apesar de pensar que deveria, decidiu que, mesmo depois de tudo aquilo, iria guardar segredo e ver o que aconteceria. Continuaria a trabalhar naquele estábulo até que ninguém mais pudesse reclamar de uma mínima coisa. “Então”, disse a si mesmo, “eu irei descobrir o que é isso tudo.”

Assim, no dia seguinte e por muitos outros dias, toda vez que tinha um tempo sobrando, lá estava ele no estábulo, limpando tudo, todos os cantos.

E a cada dia, quando terminava, lá estava o desconhecido olhando ao redor; e, apesar de perceber o progresso e apreciá-lo, ele sempre achava algum canto que ainda não estava bom o suficiente.

Mas chegaria o dia em que aquilo tudo teria um fim. E assim foi que, um dia, o estranho, depois de  olhar ao redor, por todos os cantos, disse a Benjamim, com um sorriso que o menino nunca havia visto antes num ser humano: “Sim, agora está feito. E deve ser num estábulo, e não num palácio. E não deve haver outro tão limpo quanto este em nenhuma parte do mundo!” E assim dizendo, o estranho se foi.

Enquanto tudo isso acontecia, a cada dia mais e mais pessoas passavam pela estrada, indo a Jerusalém para pagarem os impostos. Todas as noites elas lotavam as hospedarias, para descansar e comer. Finalmente veio a noite, uma noite de que as pessoas iriam se lembrar para sempre, a mais maravilhosa noite desde que o mundo começou. A hospedaria estava cheia até a porta. Pessoas dormiam por todos os lugares e cantos, no chão, nas mesas, nas cadeiras, no espaço que achavam, não importava onde fosse, contanto que tivessem um teto sobre a cabeça.

O hospedeiro foi até a porta para dizer, a qualquer um que por lá passasse e quisesse um lugar, que a casa estava cheia. Porém, quando já pensava que naquela noite não apareceria mais ninguém, ele viu um velho homem curvado sobre o seu cajado, andando devagar em sua direção. O hospedeiro percebeu que ele estava esperançoso de achar um lugar; então correu em sua direção para dizer que não valia a pena ir até lá.

– Desculpe, disse o hospedeiro. Se você está procurando por um alojamento aqui, não está com sorte. Minha hospedaria está lotada.

O velho homem parou e olhou bem para o estalajadeiro. Não podia acreditar em seus ouvidos. O hospedeiro pôde ver, na sombra da noite, uma jovem mulher sentada num burrinho. ”Não está nada bom, Maria”, ele ouviu o velho dizendo. ”Não há lugar nenhum aqui também. Nós temos de continuar o nosso caminho.” “Oh , José !”, a mulher implorou, e a sua voz comoveu o coração do hospedeiro. “O que mais podemos fazer? Eu tenho que descansar em algum lugar, pois essa é a noite de todas as noites.”

O hospedeiro ficou tão comovido pela sua angústia que, apesar de tudo, começou a pensar, tentando achar um lugar para acomodá-los. E de repente – como se alguém tivesse cochichado em seu ouvido – ele se lembrou do velho estábulo.

Correu para eles e disse: “Eu acabei de me lembrar de algo. Eu posso lhes dar um alojamento de alguma  forma. Não há nenhum lugar na hospedaria, isso é verdade. Mas, se vocês não se incomodarem, eu tenho um estábulo onde vocês podem ficar. Está impecavelmente limpo. Meu menino quase não fez mais nada nesses últimos dias, a não ser trabalhar lá duramente, limpando-o  por muitos dias.” E,  levando uma lamparina, encaminhou-os: o  velho,  a senhora e o burrinho, até o velho estábulo, atrás da hospedaria.

Aqui está! – ele disse, ao abrir a porta – Vocês podem ficar aqui e ninguém irá perturbá-los. Depois de vê-los bem acomodados, fechou a porta, voltou para a cama e caiu num profundo sono.

Já era bem tarde, quando Benjamim, que tinha ido para a cama tão cansado quanto o seu pai, acordou e, por alguma estranha razão, não conseguiu voltar a dormir. Estava bem acordado. Mas, como faltavam ainda muitas horas para o amanhecer, ele se levantou e ficou em pé em sua pequena janela, olhando a noite lá fora.

Era uma linda noite. O vilarejo, as montanhas, o campo, tudo parecia coberto por uma profunda paz celestial. Ele nunca tinha visto uma noite como aquela e se sentia como o único acordado em todo o mundo adormecido à sua volta.

Então pareceu-lhe que seu coração parava de bater. De repente, olhou na direção do velho estábulo,  imaginando que, apesar de todo o trabalho e apesar de tudo o que o estranho lhe havia dito, nada parecia acontecer. Porém, naquele instante, percebeu uma  grande luz que brilhava através de todas as frestas e por baixo da porta de madeira do estábulo. Ele só conseguiu imaginar uma coisa : “Meu estábulo!” gritou. “Ele deve estar pegando fogo!”

Sem nenhum outro pensamento, ele vestiu suas roupas e correu para fora. Chegou lá em poucos minutos e empurrou a grande porta, preparado para a primeira chama de fogo que surgisse, quando, para seu enorme espanto, ele viu, não o fogo que estava esperando, mas um recém-nascido, de onde toda essa maravilhosa luz irradiava. O bebê estava dormindo em profunda paz, deitado na manjedoura;  uma  linda  senhora,  envolta  num  manto  azul,  sorria para  ele,  enquanto  um  velho  senhor, apoiado  em seu cajado, deitava o seu olhar sobre os dois. Mas que personalidades maravilhosas eram aquelas! Nunca houvera em todo o mundo uma família igual!

presepio

De alguma forma, Benjamim sabia que aquele deveria ser o Rei sobre o qual o estranho havia falado. Como ele sabia, ele não podia explicar; mas porque ele sabia, ajoelhou-se perante eles e curvou sua cabeça em reverência.

No momento em que Benjamim ajoelhou-se, ele ouviu uma voz falando a ele e um grande temor correu  pelo seu corpo, à medida que ouvia, pois era uma voz que ele conhecia, uma voz que já havia ouvido antes, e estava falando a ele e chamando-o pelo nome:

– Benjamim – ele ouviu -, olhe para cima e seja o primeiro em todo o mundo a contemplar a criança que será o rei de toda a humanidade. Nos anos que virão, muitos homens irão construir maravilhosos templos em sua memória; mas você, e somente você, sem saber o que fazia, preparou a sua primeira casa aqui na terra.

Bem devagar, muito devagar, como se estivesse com medo de olhar para o estranho, que ele agora realizava que era um anjo do Senhor à sua frente outra vez, Benjamim levantou os olhos e viu mais uma  vez como todo o estábulo estava transfigurado pela luz celestial. Era de fato um palácio, e aquela pequena família era de fato uma família real, acima de qualquer realeza que já existira na terra.

Finalmente, ainda um pouco assustado, ele olhou para o estranho em toda a sua formosura e viu o anjo  do Senhor, vestido de luz e com grandes asas abertas, envolvendo Maria, José e a Criança Jesus. De repente todo o ar preencheu-se  de  música  e  cânticos. O telhado do estábulo parecia ter desaparecido e muitos, incontáveis anjos, voando em volta da cabeça daqueles que lá estavam, cantavam juntos: ”Glória a Deus nas alturas e na terra. E paz aos homens de boa vontade!”

 

Publicamos, recentemente, um artigo com dicas para trabalhar virtudes com as crianças durante o mês do Natal: https://culturadapaz.com.br/natal-espiritual-com-as-criancas/