Os Jogos Cooperativos surgiram da preocupação com a excessiva valorização que a sociedade moderna atribui à competição. Temos competido em lugares, com pessoas, em momentos que não deveríamos, como se essa fosse a única opção.
Ao contrário de ser uma característica única e inerente à espécie humana, a competição e a cooperação são valores culturais, ou seja, são valores e atitudes construídas pela educação formal e informal.
De acordo com Terry Orlick, nós não ensinamos nossas crianças a terem prazer em buscar o conhecimento, nós as ensinamos a se esforçarem para conseguir notas altas. Da mesma forma, não as ensinamos a gostar dos esportes, nós as ensinamos a vencer jogos.
A hipervalorização da competição se manifesta nos jogos através da ênfase no resultado numérico e na vitória. Os jogos tornaram-se rígidos e organizados, dando a ilusão de que só existe uma maneira de jogar.
Os Jogos em sua maioria são verdadeiros campos de batalha capazes de eliminar a diversão e a pura alegria de jogar. Estruturados para a eliminação de pessoas e para produzir mais perdedores do que vencedores, muitos jogos tornaram-se um espaço para tensão, derrota, ilusão de ser melhor ou pior do que alguém e para sentimentos como raiva, medo, frustração, fracasso, rejeição, e animosidade.
Se fizermos um balanço de nossas experiências de jogar, na escola ou fora dela, verificamos que pendem muito para o lado dos Jogos Competitivos. Nem sempre os programas de Educação Física, Esporte ou Recreação dão ênfase a atividades que promovam interações positivas, colaborando para que a competição deixe de ser um comportamento condicionado, oportunizando a percepção e o exercício de outras formas de nos relacionarmos com as pessoas, com a natureza e com a gente mesmo.
Os Jogos Cooperativos são jogos com uma estrutura alternativa onde os participantes jogam COM o outro, e não contra o outro. Joga-se para superar desafios e não para derrotar os outros; joga-se para se gostar do jogo e pelo prazer de jogar. São jogos onde o esforço cooperativo é necessário para se atingir um objetivo comum e não para fins mutuamente exclusivos.
Tomados como um processo, pode-se aprender a considerar o outro, a ter consciência dos seus sentimentos e a operar para interesses mútuos. Estes Jogos são estruturados para diminuir a pressão para competir e a necessidade de comportamentos destrutivos, para promover a interação e a participação de todos e deixar aflorar a espontaneidade e a alegria de jogar.
Os Jogos Cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, jogos que eliminam o medo do fracasso e que reforçam a confiança em si mesmo e nos outros. Todos podem ganhar e ninguém precisa perder. Dessa forma os Jogos Cooperativos resultam no envolvimento total, em sentimentos de aceitação e vontade de continuar jogando.
Sintetizando, podemos relacionar os Jogos Cooperativos e os Jogos Competitivos observando suas principais características:
JOGOS COOPERATIVOS |
JOGOS COMPETITIVOS |
VISÃO DE QUE “TEM PRA TODOS” | VISÃO DE QUE “SÓ TEM PRA UM” |
OBJETIVOS COMUNS | OBJETIVOS EXCLUSIVOS |
GANHAR JUNTOS | GANHAR SOZINHO |
JOGAR COM | JOGAR CONTRA |
CONFIANÇA MÚTUA | DES-CONFIANÇA / SUSPEITA |
TODOS FAZEM PARTE | TODOS À PARTE |
DESCONTRAÇÃO / ATENÇÃO | PREOCUPAÇÃO / TENSÃO |
SOLIDARIEDADE | RIVALIDADE |
DIVERSÃO PARA TODOS | DIVERSÃO ÀS CUSTAS DE ALGUNS |
A VITÓRIA É COMPARTILHADA | A VITÓRIA É UMA ILUSÃO |
VONTADE DE CONTINUAR JOGANDO | PRESSA PRA ACABAR COM O JOGO |
Em geral, tivemos poucas chances de participar de Jogos Cooperativos de uma forma sistematizada. Por isso é importante desenvolver uma PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO.
Aprendendo a jogar cooperativamente, podemos descobrir inúmeras possibilidades de criar processos facilitadores da participação e inclusão. Através da modificação gradativa das regras e estruturas básicas do jogo, geramos um clima de aceitação mútua entre os jovens praticantes, incentivando-os a refletir sobre as possibilidades de transformação do jogo, na perspectiva de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem de todos.
Além disso, uma Pedagogia da Cooperação pode ajudá-los a dialogar, a decidir em consenso e a praticar as mudanças desejadas. Exercitando a reflexão criativa, a comunicação sincera e a tomada de decisão por consenso para aprimorar o jogo, as crianças e os jovens – e nós, educadores, também – poderão descobrir que têm plenas condições de intervir positivamente na construção, transformação e emancipação de si mesmos e da comunidade onde convivem.
Todo tipo de Jogo tem uma intenção que ultrapassa os limites do campo e da quadra. Assim, é importante perceber quais os valores que estão por trás dos jogos e a que tipo de propósitos as atividades estão servindo. Além de conhecer o jogo é preciso re-conhecer a que e a quem ele serve.
O propósito essencial dos Jogos Cooperativos é colaborar para a construção de um mundo melhor para todos… sem exceções, onde “se o importante é competir, o fundamental é cooperar.” Jogando dentro desse Estilo Cooperativo podemos desfazer a ilusão de sermos separados e isolados uns dos outros e percebermos o quanto é bom e importante ser a gente mesmo, respeitar a singularidade e JOGAR PARA VENCER… JUNTOS!
PROJETO COOPERAÇÃO – Comunidade de Serviços Ltda.
www.projetocooperacao.com.br
fabiobrotto@projetocooperacao.com.br
Sobre o autor Fábio Otuzi Brotto:
• Sócio-Facilitador do Projeto Cooperação.
• Mestre em Ed. Física (Unicamp).
• Bacharel em Psicologia e Licenciado em Educação Física.
• Facilitador credenciado do “Jogo da Transformação” (Innerlinks-EUA e Findhorn Foundation-Escócia).
• Co-Fundador do Projeto Cooperação.
• Criador da Pós-graduação em Jogos Cooperativos.
• Focalizador de Jogos Cooperativos, Pedagogia da Cooperação e Desenvolvimento de Equipes Colaborativas.
• Autor de livros, entre eles: “Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar” e “Jogos Cooperativos: O Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência”.
Dica de Leitura – 100 Jogos Cooperativos
Onde encontrar: http://www.omnisciencia.com.br/100-jogos-cooperativos.html