Era uma vez um jovem rei, valente e corajoso, que tinha por desejo conquistar muitos territórios. Como era inteligente e sagaz, em pouco tempo conseguiu atingir este objetivo: tornou-se dono de terras a perder de vista e o número de súditos, também, aumentou consideravelmente. Sentindo-se satisfeito com tudo o que tinha adquirido, decidiu que era hora de voltar para casa.

Para garantir que aqueles terrenos continuariam seus depois da partida, ele nomeou funcionários de extrema confiança, que ocuparam o cargo de governadores locais. Distribuiu parte de seu exército para cada um e, confiante, pegou a estrada da volta com o resto dos soldados, mais o general e o ministro.

exercito medieval

Uma dia, acampou num vale, entre as margens de um rio e uma colina. Quando a noite já havia tingido o céu de preto e só se ouvia o sussurro de alguns animaizinhos madrugadores, o rei olhou para fora de sua tenda. Atento ao topo da colina, ele percebeu que lá longe havia uma luz fraca, mas singular, diferente de tudo o que já tinha visto antes. A luz parecia chamá-lo. Extremamente curioso, sentiu uma vontade enorme de subir até lá.

Ele esperou o sol aparecer, chamou o ministro e pediu-lhe para descobrir o que havia naquela montanha, sem dizer nada sobre a luz. O funcionário, então, respondeu:

– Meu senhor, na noite passada estava conversando com alguns homens da região e eles me informaram que no topo da colina vive um homem muito simples, de idade avançada. Sua Majestade deve ter observado o fogo que ele conservava aceso, em frente à sua cabana.

– Você viu esse fogo? perguntou o rei

– Sim, meu senhor.

– Que espécie de luz o fogo emite?, insistiu a majestade.

colina iluminada

O ministro ficou um pouco intrigado:

– Por que, meu senhor? A espécie de luz que resulta de qualquer fogo feito pela queima de gravetos e folhas secas!, respondeu.

O rei percebeu que a visão que tivera não era a mesma de seu ministro, então ordenou:

– Vá ao topo da colina e informe ao velho que gostaria de me encontrar com ele.

O ministro, então, subiu a montanha íngreme e, depois de algum tempo, desapareceu na paisagem. Ao retornar, trouxe um recado: “Meu senhor, o homem lhe mandou boas vindas. Disse, porém, que o senhor deve se apresentar diante dele vestido apropriadamente.”

rei

Com sua mais pomposa indumentária real, a majestade começou a escalar a montanha. Mas, no meio do caminho, foi cumprimentado por um discípulo do eremita, que lhe disse:

– Ó, rei, meu senhor já o viu. Ele pede que volte vestido apropriadamente…

Convencido, o rei refletiu: “Esta não é a roupa adequada para eu me encontrar com um homem simples. Fui um tolo ao me vestir como se fosse visitar um outro rei!”

Ele retomou à sua tenda, cobriu-se com tecidos rústicos e deu início à caminhada mas, novamente, foi interrompido por outro súdito, que lhe disse: “Volte vestido apropriadamente!”.

O rei, surpreso com o que se passava, voltou ao acampamento e contou o que houve. O general, furioso com a postura do velho, tentou convencer o rei de arrastar o pobre homem até a tenda em que estavam, mas foi logo advertido:

“Que glória há em trazer, à força, um homem idoso e desarmado? Devo me adequar às suas exigências e encontrá-lo em sua casa.”

No manhã seguinte, o rei arranjou dois pedaços de linho ocre e colocou-os, um em torno da cintura e outro na parte superior do corpo. Respirou fundo e começou a caminhar, a passos largos, pela montanha. Não demorou muito até que um homem lhe dissesse: “Meu mestre quer que volte vestido apropriadamente.”

rei roupa real

Aquilo era demais! O rei, que nunca havia sido contestado e cujas ordens provocavam guerras, ficou sem voz, à beira das lágrimas. Voltou para o acampamento, sentou-se sozinho e começou a pensar…Ele poderia subir até o topo da colina e obrigar o simples homem a recebê-lo. Poderia condená-lo à morte, como havia feito com tantos outros e ninguém ousaria proferir uma palavra de protesto. Mas isso não significava nada. Ele havia conquistado todas as terras que se estendiam até o horizonte e mais além, no entanto, naquele momento, sentia-se derrotado.

O sol deu vez às estrelas e ninguém teve coragem de perturbá-lo.

Quando uma brisa suave fez a cortina de sua tenda se abrir, o rei ergueu os olhos. Viu, então, com mais intensidade, a luz deslumbrante que havia chamado a sua atenção dois dias antes. Estava, diante dele, o velho do alto da colina.

– Meu filho, como está bem vestido, disse o homem iluminado.

O rei levantou-se e, inclinando-se diante dele, murmurou:

– Estou com a roupa que costumo vestir na privacidade de meu quarto.

Sabiamente, o homem lhe disse:

– Na privacidade de seu coração, meu querido rei, você se conscientizou como é humilde, não é mesmo?

– Sim. A futilidade de minhas conquistas, todo o derramamento de sangue, a loucura de gastar tempo em tais expedições violentas, começaram a despontar em mim”, replicou.

– É o alvorecer da sabedoria, meu filho. E eu queria que você estivesse vestido de sabedoria. Todas as outras vestimentas são meras necessidades ou simples vaidade, disse o eremita. Abraçados, o rei sentia que a luz que vira estava, agora, passando para o seu coração.


Livro:
Histórias da Índia Antiga recontadas por Manoj Das