Trecho extraído do livro “A Eterna Busca do Homem”, de Paramahansa Yogananda, que exemplifica a importância de valores e virtudes serem abordados, discutidos e ensinados em sala de aula.
Princípios espirituais devem ser ensinados
Doenças físicas, por serem tangíveis, dolorosas e repugnantes, despertam nossa resistência ativa, e procuramos curá-las com exercício, dieta, remédios ou algum outro método específico de cura. Mas as doenças psicológicas, apesar de serem a causa básica de todos os sofrimentos humanos, não suscitam prevenção e atendimento tão rápidos, e deixamos que desgracem e destruam nossas vidas.
Educadores, ginastas, pregadores, reformadores, médicos e legisladores acelerarão o verdadeiro progresso da civilização apenas quando forem os primeiros a aprender – e depois a ensinar – o desenvolvimento harmonioso de todos os aspectos da vida e da natureza humanas. Esta é a verdadeira educação e a cultura humana holística que o mundo inteiro procura.
Autoridades pedagógicas consideram impossível ensinar princípios espirituais em escolas públicas, porque os confundem com os diversos dogmas de religiões conflitantes. Se, porém, se concentrassem nos princípios universais da paz, do amor, do serviço, da tolerância e da fé, que governam a vida espiritual, e se planejassem métodos práticos para fazer crescer essas sementes no solo fértil da mente infantil, então a dificuldade imaginária desapareceria. É um grande equívoco ignorar este problema só porque é aparentemente difícil.
Muitos bacharéis saem das universidades com a cabeça tonta, inflada de livros, e são incapazes de caminhar direito pela estrada da vida, porque as pernas de sua vontade e autodomínio estão quase paralisadas pelo desuso. Atiram-se de cabeça no abismo do casamento errado, do abuso do sexo, da busca desenfreada pelo dinheiro e do fracasso nos negócios, porque não lhes foi ensinado o uso das lâminas mentais da inteligência, afiadas na faculdade, a não ser para ferir a si mesmos. Muitos jovens parecem ter prazer em fazer tudo o que termina por resultar em seu próprio prejuízo e sofrimento. No ano passado, nos Estados Unidos, jovens entre 15 e 30 anos roubaram um bilhão de dólares na modalidade “assalto à mão armada”. Quais os responsáveis? Nós – todos nós. Quem não impede a propagação do mal e não ensina os outros, pelo exemplo, a serem virtuosos é também culpado. Escolas, faculdades e toda a sociedade não trataram cientificamente de impedir o crime, pela eliminação de sua verdadeira causa mental.
São necessárias escolas que ensinem a viver
Por que não tomar as providências educacionais adequadas para evitar o roubo anual de um bilhão de dólares, e usar parte desses milhões para criar “escolas-de-como-viver”, onde se ensine a arte de viver e o desenvolvimento equilibrado de todas as faculdades humanas?
Considero as escolas bem organizadas jardins onde crescem e são cultivadas as almas das crianças. Os jardineiros devem ser bem selecionados e receber cooperação dos pais e do público. Jamais deveríamos negligenciar os professores, pois são modeladores de almas. Na primeira infância de uma planta humana, os cuidados e a nutrição espiritual frequentemente determinam seu desenvolvimento posterior.
Elogio sinceramente o moderno sistema escolar americano e o constante aperfeiçoamento de seus métodos de educação intelectual e, até certo ponto, de educação física. Entretanto, não posso deixar de assinalar seu principal defeito: a falta de alicerce espiritual. É preciso que se acrescente ao sistema, urgentemente, o treinamento moral e espiritual. O rapaz que se distingue como o primeiro de sua classe pela inteligência, ou que é um grande jogador de beisebol ou futebol, frequentemente atrai a atenção e o estímulo do professor, mas poucos o observam ou advertem corretamente se leva uma vida moral ou espiritual de terceira classe.
Onde está a escola que toma providências definidas para desenvolver a natureza integral do homem, ensinando-lhe a verdadeira arte de viver e qualificando-o a passar nos vários testes menores até defrontar-se com a prova final da vida? Há necessidade urgente de tais escolas, que ensinem as artes e as ciências do crescimento integral.
Nessa “escola-de-como-viver”, a ciência do desenvolvimento físico, mental e espiritual seria ensinada às crianças, cujas mentes ainda são maleáveis e cujas energias ainda não foram direcionadas para um canal específico. Também os adultos podem dominar o programa das escolas noturnas, se exercitarem a boa vontade e a paciência, enquanto bons hábitos vão substituindo os indesejáveis.
Após um treinamento completo, os estudantes desse tipo de escola devem fazer um contínuo exame introspectivo, durante a vida inteira; os vários diplomas conquistados serão saúde, prestígio, eficiência, riqueza e felicidade.
Os resultados do exame final, ao encerrar-se a permanência na Terra, serão determinados pela soma total de realizações e diplomas mentais e espirituais conquistados nas diversas provas no decorrer da vida. Os que obtiverem êxito integral nesse grande exame final receberão um diploma de autossuficiência divina, uma consciência livre e feliz, e bênçãos eternamente gravadas no pergaminho da alma. Essa recompensa rara é incorruptível às traças, está além do alcance de ladrões e do apagador do tempo, e confere o honroso ingresso na Associação da Verdade.