Mamusca é um espaço de convivência, na zona oeste de São Paulo, com uma proposta diferenciada de integração para toda a família, que se nutre em fontes como a Abordagem Pikler e o Método Montessori, ambos com um olhar atento e empático – sobretudo – à primeiríssima infância (0 aos 3 anos). Ele foi idealizado por Elisa Roorda e sua amiga Janaína Pereira, que haviam morado juntas em Barcelona, onde conheceram propostas similares. O nascimento da filha foi o “empurrão” que faltava para Elisa deixar o mercado publicitário e investir no sonho.
No Mamusca, os ambientes são espaçosos e se interconectam, favorecendo o “trânsito” livre das crianças em suas descobertas e processos de aprendizagem. Enquanto elas descortinam o mundo na sala rodeada de objetos não-estruturados ou desbravando a terra no quintal, seus pais e avós tecem uma rede de afeto no café, logo à porta, compartilhando os desafios e responsabilidades da educação. “Aqui, a conexão é o que mais importa”, diz a coordenadora pedagógica Paula Saretta. E é essa imagem do “todos juntos num mesmo lugar” que justifica o nome Mamusca – referência à boneca russa com réplicas suas dentro de si.
Para matricular a criança, a família passa por algumas entrevistas: “A intenção é conhecer a realidade de cada um, ter informações específicas, saber do histórico. E essas conversas têm continuidade ao longo do tempo, conforme surge alguma necessidade”, conta Paula. A fase de adaptação da criança é tratada com um olhar bem amoroso. Carol, filha de Sabrina Weisz, está neste período. Diz a mãe: “Procurei espaços com estímulos. Ela está querendo explorar, é curiosa, e no apartamento onde moramos há muitas limitações”. Sabrina tem acompanhado a menina nestas primeiras semanas. Quando há uma demanda especial, um tema abrangente comum a pais e mães, o espaço convida a pediatra Florence Fuchs para o “Bate-papo Mamusca”.
Conexão (rede de apoio que fortaleça as famílias), encantamento (cuidado e escolha dos materiais) e livre-expressão (o brincar livre, onde a criança é mais monitorada do que conduzida em suas atividades) são os pilares que permeiam todos os programas da casa:
- Ninho de Pequeninos: para quem quer ficar pertinho do bebê de 0 a 18 meses, uma vez por semana, em um espaço preparado especialmente para essa fase. Olha-se não só para o desenvolvimento dele, mas também para seus cuidadores. Vivências artísticas, sensoriais e musicais fazem parte da proposta que busca fortalecer ainda mais o vínculo que existe entre o pequenino e quem ele ama;
- Quintal Vivo: atividades paralelas com brincadores;
- Terra de Pequeninos (o carro-chefe): Destinado à turminha de 6 a 36 meses, combina as necessidades e desejos desta fase. Pensado para respeitar e potencializar as descobertas de cada um. No Terra, o espaço pode ser tocado, sentido, descoberto e engatinhado com encantamento.
Paula Kesselman, ou Paulinha, como é conhecida, é uma das educadoras do Terra de Pequeninos e detalha o trabalho feito por eles: “Há uma série de desafios motores: escadas, rampas e outras intervenções que favorecem o movimento e a nossa postura é a da observação. Agimos de maneira sutil para que cores, sons e outras impressões venham deles. O silêncio também é muito importante”.
Além de receber os pequenos e suas famílias, a casa promove visitas monitoradas e encontros com educadores. Em 2017, o espaço tem acolhido o evento mensal da Aliança pela Infância, que reúne professores, diretores e outros profissionais da área da educação para discutir o ABCD encantado da infância: aprender, brincar, comer e dormir. São dois encontros para cada tema, onde especialistas fazem a mediação do grupo de estudos e todos compartilham experiências.
Saiba mais sobre o ABCD: https://culturadapaz.com.br/15-anos-alianca-pela-infancia/
Brincar livre
“Para um bebê, o mundo todo é uma grande novidade e uma oportunidade excitante a explorar. Para conhecer este mundo e conquistá-lo pouco a pouco, aprender a controlar suas mãos, seu corpo, os brinquedos, etc, ele precisa de silêncio e paz imperturbáveis”
– Anna Tardos, psicóloga de crianças em Budapeste e presidente da Associação Húngara Pikler-Lóczy
Fala-se muito do brincar livre mas, afinal de contas, o que ele é?
Quando um ser humano nasce, a maioria dos 100 bilhões de neurônios ainda não está conectada em rede, ou seja, ainda não foram estabelecidas as sinapses. A principal tarefa do desenvolvimento cerebral inicial é a formação e o reforço dessas ligações, o que ocorre à medida que a criança experimenta o mundo que a rodeia e estabelece vínculos com os adultos. Por isso, a brincadeira é a sua principal atividade, pois é por meio dela que essa nova configuração vai sendo construída.
Leia também: Educar criança de 0 a 3 exige sensibilidade e delicadeza (hiperlink: https://culturadapaz.com.br/educar-crianca-de-0-a-3-anos-exige-sensibilidade-e-delicadeza/)
Mas não se trata de deixar um bebê com um monte de brinquedos em uma grande sala. É preciso tornar o espaço convidativo à exploração, à pesquisa. No Mamusca, os educadores chegam uma hora antes do início da programação para preparar o ambiente. Eles o planejam imaginando possibilidades de jogos e brincadeiras e dispõem ao chão e à mão dos pequenos uma diversidade de objetos (a maior parte do que é oferecido às crianças é de brinquedos não estruturados) com diferentes texturas, pesos, formas.
Os educadores espalham os objetos como uma espécie de mapa do brincar, com áreas delimitadas por tapetes e, em cada uma delas, há um convite diferente: “Se tiver contação de história, reservamos um lugar com livrinhos, fantoches e fantasias”, diz Paula. Existe, naturalmente, uma intenção do educador. Ele organiza o espaço para que, depois, livremente, a criança o explore. “Ela precisa se encantar pelo que vê. Isso é fundamental para o brincar acontecer”, complementa a coordenadora pedagógica.
Nem é preciso dizer que, durante a atividade, não só as crianças se encantam, né?
Conheça o Mamusca: http://mamusca.com.br/home/