As crianças sensíveis estão entre nós por toda a parte, são nossos filhos, sobrinhos, filhos de amigos ou nossos alunos. São muito ativas, olhar penetrante, alegres e profundas. Falam coisas que, muitas vezes, parecem não ter qualquer conexão com nossa vida cotidiana. São como lembranças de uma rica vida interior, fluindo para o dia a dia. E elas vieram com uma missão: ajudar a transformar e a reorganizar nossa confusa sociedade. Elas estão para nos lembrar de que os grandes mestres da Humanidade que aqui já estiveram, nos deixaram os mais variados mapas do caminho a percorrer para encontrar a harmonia dentro de si.
Essas crianças estão chegando como um alerta: “Parem um pouco, questionem seus hábitos, acalmem-se, respirem… Vamos nos ajudar a praticar os valores eternos que temos dentro de nós”.
Em uma sociedade hiperativa como a nossa, essas crianças são tidas como desajustadas. Claro, estamos fornecendo o alimento errado para suas doces almas.
O alimento que precisam, para não adoecerem, não é o vídeo-game, nem a televisão, nem o computador ou a comida fast-food. Elas precisam do tempo de seus pais para passear de mãos dadas no parque, observar o pequeno mundo mágico dos insetos – que sobrevive em meio ao concreto, e ter tempo livre para olhar as nuvens no céu.
Na verdade, elas vieram para nos redimir. Para nos fazer lembrar de que somos seres perfeitos por herança divina. Na verdade, não são elas as hiperativas: somos nós.
Suas almas apenas anseiam por retomar o contato com os ensinamentos mais profundos que já tiveram contato e se sentem incomodadas quando não são colocadas em um ambiente adequado, com um conhecimento superficial da existência humana, que nada lhes acrescenta. Sem contato com a Natureza, sem carinho e atenção que necessitam no dia a dia, com excesso de estímulo eletrônico, sem poderem se expressar artisticamente através da música ou da arte, enfim, sem poderem exercer sua espiritualidade no cotidiano, sentem-se tolhidas em sua grandeza. Como queremos que elas se comportem bem?
Não compreendemos que para acalmá-las devemos oferecer a elas a simplicidade de uma vida equilibrada. Permitir que elas possam brincar com objetos simples, estar em sintonia com os elementos da Natureza e com a sua própria natureza. Elas precisam viver de acordo com seu ritmo infantil e não com o ritmo acelerado e estressante do universo adulto atual. E precisam ser preservadas de conteúdos que a despertem para o consumo, para a violência e para uma sexualidade precoce.
Nós todos somos, como sociedade, responsáveis por elas. Necessitamos alimentá-las do exemplo de vida dos grandes santos, nossos verdadeiros heróis, que nos ensinam sobre como viver nesse mundo, mantendo uma vida permeada de virtudes e valores. As crianças sensíveis anseiam por uma reconexão com a vida maior, que flui dentro de todos nós. Elas querem ir muito além de uma vida materialista e vazia, querem se sentir seguras, confiantes e felizes.
Querem ser tratadas na sua individualidade única e na sua universalidade intrínseca, e não como seres nascidos produzidos em massa. Elas estão sedentas do conhecimento maior que vem do contato com o mundo espiritual. E o que nós adultos fazemos com ela?
Queremos que fiquem quietas, usando a droga dos eletrônicos e rotulamos levianamente essas crianças de hiperativas. Quando não fazemos pior, dando remédios à base de ritalina para acalmá-las.
Drogamos essas crianças, como fazemos com a nossa criança interior, quando ela pede calma, atenção e aconchego. Não compreendemos a grandeza da missão que elas e todos nós temos. Não percebemos que essas crianças vieram para nos ensinar que todos precisamos de tempo, paz, amor e proteção.
No fundo, tudo que essas crianças estão desesperadamente nos pedindo é amor. Só o amor pode ser a chave para a compreensão do seu universo e ela compreenderá tudo que nós adultos dissermos a ela. Mas sem essa chave, nada e ninguém poderá penetrar em seu mundo. Elas podem se tornar autistas, agitadas ou portadoras de doenças graves.
Mas como oferecer isso a elas, se nós adultos não sabemos o que é a paz e como estabelecer o contato com ela? E é aí, neste ponto, que nossa sociedade deve parar e refletir.
Para dar o amor altruísta, calmo e seguro que elas precisam, necessitamos estar em paz conosco mesmos, com a comunidade ao nosso redor, pois o amor é como uma onda gigantesca, adormecida dentro de nós, que nos envolve totalmente quando permitimos que ele se manifeste, nos dando um tempo para simplesmente observar e analisar nossa existência. Quando permitimos despir a capa do ego e olhar para dentro da alma. Quando deixamos fluir o que somos em essência, o que já está perfeitamente pronto, dentro de nós. Precisamos apenas tirar os véus que o recobrem: a pressa, o egoísmo, a ansiedade, a irritação, a vaidade, a ambição… quantos véus inúteis para nossa felicidade.
Esse caminho de volta para nós mesmos é possível através da meditação, um dos únicos que realmente pode nos mostrar onde está a porta para essa estrada luminosa do amor, que nos levará à compreensão total desses seres divinos, que podem ser nossos filhos, filhos de amigos, nossos alunos, não importa. Todos somos responsáveis pela felicidade das crianças do planeta.
Por: Maeve Vida e Ligia Miragaia, autoras dos livros: Gandhi, o Herói da Paz; Francisco, o Herói da Simplicidade; O Caminho da Flor. Maeve é ainda autora de Não ao Consumismo, Sim ao Heroísmo; Papai e Mamãe Viraram Amigos. Todos esses títulos fazem parte do Programa Omnisciência de Educação para Paz, baseado na Ciência da Yoga.
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